Kubrick e King

Perfeccionismo de Kubrick levou a discussões com parte do elenco. Disponível em pinterest

        Quando lançado, em 1980, O Iluminado foi desprezado pela crítica especializada, ganhando inclusive o prêmio “Framboesa de Ouro” daquele ano. 33 anos depois, a película figura ao lado de O Exorcista entre os melhores filmes de terror. A adaptação do livro homônimo de Stephen King dividiu opiniões entre os fãs, isso porque na época King já tinha três livros publicados e um séquito de admiradores, o mesmo acontecia com o diretor Stanley Kubrick.


O Iluminado é a história de uma família – pai, mãe e filho – sozinha em um hotel durante todo inverno. O pai Jack (Nicholson) é um escritor frustrado que aceita a oferta de cuidar de um hotel na época em que ninguém se hospeda nele. Logo no começo descobre-se que Danny, o filho, é um iluminado. O que significa que ele pode ver coisas que já aconteceram e que ainda acontecerão. Apesar do nome, o filme não trata profundamente sobre Danny, e sim dos fatores que envolvem sua estada no hotel, e principalmente da loucura de seu pai. Com uma mãe insossa, tudo que Danny pode fazer é tentar fugir. Mas de quê? Nesse caso o livro deixa claro o que o filme não consegue muito bem, o menino tenta fugir do hotel que quer se apoderar das forças sobrenaturais de Danny.
 
O hotel usa de vários artifícios para conseguir se apoderar de Danny. Entre eles, o trunfo principal é o próprio pai. O que a família acha que é loucura da solidão, na verdade é o hotel se manifestando. O que fica claro no filme é que não foi a primeira vez que isso acontece. Relatos de assassinatos de crianças aparecem, assim como as famosas gêmeas.

Há muitos detalhes do livro que Kubrick deixa passar, mas sem isso o filme não teria uma de suas características mais marcantes: o espaço para o espectador imaginar o que acontece. Na época da pré-produção do filme a tensão entre Kubrick e King era forte, (isso porque o diretor vetou a adaptação feita pelo autor) o que não se alterou após o lançamento. Kubrick era um perfeccionista, algumas cenas tiveram que ser regravadas a exaustão até que ficassem do jeito que ele desejava.
Kubrick traz uma aura de realidade que o livro de King não consegue dar. No livro tudo é fantástico, no filme sente-se proximidade com o enredo apresentado. Na versão cinematográfica o foco é a loucura cada vez mais aparente de Jack.  O diretor torna a ficção de terror de Stephen King em um thriller psicológico, e os cortes feitos deixam isso claro. Pouco se mostra, há espaço para a interpretação do espectador.
Cada vez que fica no ar que algo vai acontecer muda-se a cena. O que foi uma escolha de Kubrick para evitar todos os monstros e a maldade evidente do hotel no livro.  Aliás, tudo que é muito evidente no livro passa a ter nuances na adaptação cinematográfica. A maldade do hotel, os monstros de grama, o alcoolismo de Jack e os poderes de Danny.
O filme apresenta cenas ótimas, como a icônica hora que Jack aparece arrebentando a porta com um machado. O modo como as cores são trabalhadas impressionam, o plano sequência com Danny correndo em seu tricícolo é um exemplo disso, os tapetes geométricos e coloridos dão uma dimensão de grandeza que o hotel teria para uma criança. Vale ressaltar os planos da estrada, com a trilha sonora tensa que induz a loucura. O final é apenas de tirar o fôlego, com a cena de perseguição entre pai e filho e um desfecho que beira ao humor negro.

Sem dúvidas, O Iluminado é um filme que marca quem o assiste. É possível que estilo não agrade alguns, entretanto não se pode negar que é uma das grandes obras do diretor que passou por quase todos os gêneros cinematográficos desde drama à ficção científica.

Unknown

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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